Thelema: Uma Religião da Nova Era

Nota Editorial: Este Artigo - que aqui está reproduzido em sua versão integral - foi originalmente publicado na Revista Sexto Sentido nº 50, de Abril de 2004, da Mythos Editora. Clique na imagem da Revista para ir para a página da Revista Sexto Sentido, no Site da Mythos Editora.

Em escala mundial, estamos vivendo um momento de significativa importância para muitos dos estudantes das assim chamadas Ciências Ocultas. No período entre os dias 21 de março e 10 de abril de 2004, a partir das festividades do Equinócio de Primavera (ou Outono, no Hemisfério Sul) milhares de fiéis em todo mundo celebrarão o centenário de inauguração de sua religião, vinda ao mundo com a promessa de ser a aclamada religião da Nova Era: é o centenário da Lei de Thelema. Nos dias 8, 9 e 10 de abril de 1904, Aleister Crowley, recebia o Liber Al vel Legis (comumente chamado de Livro da Lei), documento mestre da então recém-nascida Lei de Thelema.
O Livro da Lei é a pedra fundamental da religião thelêmica, ou a religião do Novo Éon de Hórus, como os thelemitas preferem chamar a Era de Aquário. Aleister Crowley, então, como Profeta do Novo Éon, definitivamente marca sua presença no cenário ocultista mundial.
Quem foi Aleister CrowleyUm dos exemplos mais desconcertantes da história do ocultismo de todos os tempos, Aleister Crowley (Edward Alexander Crowley, 1875-1947), bem caberia como personagem principal de histórias místicas do mais romântico estofo. Atualmente, a obra e a vida daquele que por muitos é considerado o maior mago do vigésimo século da era cristã, vem despertando cada vez mais a atenção dos estudantes da filosofia hermética.Mago, poeta e erudito, visionário, bissexual e bufão, alpinista excepcional e enxadrista notável, a própria Grande Besta do Apocalipse, como ele próprio se denominava, a partir de várias tradições com as quais esteve em contato, sejam ocidentais ou orientais, reformulando-as de acordo com o filtro de sua obsessiva e frenética personalidade, Crowley legou à humanidade uma vastíssima obra, cuja principal virtude é – de acordo com as palavras de seus seguidores – libertar o ser humano da escravidão imposta pelo secular dogmatismo das religiões de massa.Desde bem cedo, o jovem Crowley, obrigado por seus pais, fanáticos membros de uma radical seita protestante vitoriana, viu-se às voltas com um bem comum modo de vida inglês, cuja monótona rotina oscilava entre os cultos diários da Irmandade e o intenso estudo da Bíblia cristã. Segundo seus biógrafos, esta seria uma das principais razões de sua alucinada rebeldia que o levaria, mais tarde, a romper com todos os modos e costumes da tradicional aristocracia inglesa do final do século XIX.Em Cambridge se instruiu com raro destaque em todas as disciplinas. Nesta época, Crowley, leitor voraz e compulsivo, assimilou tudo de importante que havia das literaturas inglesa e francesa, além de diversas outras obras em Latim e Grego clássicos, inclusive filosofia e alquimia; se dedicou a canoagem, ciclismo, xadrez, montanhismo e alpinismo, atividade esta em que ganhou notoriedade e que exerceu por boa parte de sua vida. Sua carreira de alpinista chegou ao ápice entre os anos de 1902 e 1905, quando participou das primeiras tentativas de escalar o Chogo Ri (também conhecido como K2) e o Kanchenchunga, duas das maiores montanhas do mundo, situadas na Cordilheira do Himalaia. Por volta de 1896, Crowley inicia a leitura de alguns livros sobre magia e misticismo. Algo começava a tomar forma dentro de seu irrequieto ser; porém, foi a leitura de “Nuvem sobre o Santuário”, do místico Karl von Eckhartshausen, obra lhe recomendada pelo famoso ocultista Arthur Edward Waite, que fez com que Crowley decidisse abandonar os estudos em Cambridge, bem antes de sua graduação, para dedicar a vida ao estudo do Ocultismo e da Magia. Assim, ele se determina a empenhar-se com afinco no sentido de encontrar os Mestres Secretos e a Grande Fraternidade Branca, mencionados no livro de Eckhartshausen. Começa aqui a carreira mágica de Aleister Crowley. Através de dois amigos, Julian Baker e George Cecil Jones, Crowley é apresentado a Samuel Liddell "MacGregor" Mathers, um dos lideres da Ordem Hermética da Aurora Dourada (“The Hermetic Order of the Golden Dawn”, a G.'.D.'.), uma das mais influentes Ordens iniciáticas do final do século XIX. A G.'.D.'., fundada pelo próprio Mathers, junto com os maçons William Wynn Westcott e William Robert Woodman, em 1887, proporcionaria a Crowley sua primeira Iniciação e o contato com os primeiros mistérios mágicos, os quais tanto ansiava. Crowley é iniciado por Mathers ao Grau de Neófito, primeiro grau da G.'.D.'., tomando como mote mágico o nome de Perdurabo ("eu perdurarei até o fim"). Sua inteligência e aptidão em assimilar novos conhecimentos, além de sua dedicação ao estudo e a prática do ocultismo, o conduziram rapidamente aos Graus subseqüentes da G.'.D.'.. Durante este período, além do intenso estudo do ocultismo, o constante uso de drogas e uma obsessão praticamente incontrolável por sexo, consistiam suas atividades principais. Crowley viajou pelas Américas do Norte e Central, toda a Europa, África e Oriente Médio. Dotado de uma fantástica capacidade de mimetismo, assimilava a cultura local passando como se fosse um nativo das inóspitas regiões onde estivesse, seja Índia ou Himalaia. No Oriente Médio, encontrou-se e instruiu-se com Mestres de Yoga e Tantra. O ano de 1904 revela a Crowley o mistério que o acompanhou até seu último momento: a Lei de Thelema. Com sua esposa Rose Kelly, Crowley viaja pelo Egito. Segundo seu relato, quando de sua estadia no Cairo, após uma série de Rituais e Invocações ao Deus Thoth, iniciadas durante o Equinócio de Primavera (Hemisfério Norte) daquele ano, um ser preter-humano, identificando-se como Aiwass lhe dita, nos dias 8, 9 e 10 de abril, o Liber Al vel Legis, o Livro da Lei. Nascia a religião de thelema. Liber Al vel Legis, de acordo com os thelemitas, proclama o fim da Era, ou Éon, num evento de passagem denominado por eles como o “Equinócio dos Deuses”. O velho Éon, ainda segundo os thelemitas, era marcado pelo sofrimento, pela necessidade de intermediação entre Deus e o homem. Em seu lugar, começava a época do deus de alegria, onde o homem teria a liberdade de realização de sua própria vontade. A epígrafe "Faze o que queres há de ser o todo da Lei", contida em Liber Al e utilizada nos escritos de natureza thelêmica, sintetiza a própria regra de conduta a ser tomada como tônica do Éon então nascido. Crowley por sua vez, a essa altura já tendo se afastado da G.'.D.'., no sentido de divulgar a Lei de Thelema, funda em 1907 a sua própria organização iniciática: a Argenteum Astrum, A.'.A.'., a Ordem da Estrela de Prata, que bem mais tarde seria instalada na Abadia de Thelema, na Sicília. Em seu quadragésimo aniversário, Aleister Crowley profundamente inspirado pelo mito bíblico assume para si o Mote de TO MEGA THERION (“A Grande Besta”, em grego, cujo valor numérico é 666) para o avançado Grau de Magus da sua A.'.A.'., nome e lema mágico-oculto que o acompanhou pelo resto de sua vida. Daí ele ter sido também conhecido como Mestre Therion.Um pouco mais tarde, Crowley toma a liderança de uma outra Ordem, chamada O.T.O. - Ordo Templi Orientis. Sob o novo Mote de Baphomet XIº, reestrutura esta Ordem, de modo que ela sirva aos seus propósitos, recheando-a com os preceitos thelêmicos em seus Rituais de Iniciação, fazendo desta uma nova Ordem religiosa, um novo instrumento de divulgação de sua religião thelêmica. Crowley lidera a O.T.O. até sua morte, ocorrida em 1º de dezembro 1947.Ao longo de toda sua vida, Crowley seguiu orientando e ensinando seus discípulos, ainda que estivesse comumente envolvido em escândalos nos quais os principais ingredientes costumavam ser duelos mágicos, drogas, orgias e até mesmo a simulação de seu suicídio. Ora ignorado ora perseguido, às vezes considerado pernicioso à moral e aos bons costumes, Crowley, absolutamente convencido de sua missão como o Profeta do Novo Éon, se dizia ‘além da Sabedoria e da Tolice’, e sem considerar o pouco caso que por vezes lhe faziam, continuava proclamando a todos: "Faze o que queres há de ser o todo da Lei".A Religião ThelêmicaThelema é uma palavra grega que significa vontade. A Religião thelêmica pode ser entendida como aquela que fará com que seu seguidor identifique, conheça e, então, passe a seguir a sua própria vontade pessoal. Esta vontade pessoal, de acordo com Crowley, deve estar obrigatoriamente em harmonia com a Vontade que tudo rege. Somente assim, estas duas vontades passam a ser uma única vontade, chamada de Vontade Verdadeira, a orientar a vida do Iniciado.Algumas máximas, extraídas de Liber Al, servem como guias para os fieis da religião criada por Crowley. Entre elas, as mais conhecidas são “Faze o que queres há de ser o todo da Lei”, “Amor é a lei, amor sob vontade”, "a palavra de pecado é restrição" e a bem poeticamente mística “todo homem e toda mulher é uma estrela”. Thelema (ou Vontade), para ter o devido equilíbrio em força e beleza, deve ser usada em igual proporção a Agape, palavra grega para Amor. Daí a compreensão do axioma “Amor é a lei, amor sob vontade” ser de vital importância para o exercício da religião thelêmica. A demonstração deste mistério pode ser apresentada através do uso da gematria, técnica em que valores são atribuídos às palavras. Deste modo, chega-se a uma fórmula bem simples, uma expressão matemática de busca de identidade, ou da Unidade, o numero 1. A palavra "Vontade", Thelema, segundo a gematria normalmente adotada, vale 93. A palavra "Amor", Agape, também valerá 93. Assim, dizem os thelemitas, "amor sob vontade" pode ser representado por "93/93" e essa fração é igual a 1, a Unidade. O ser humano dotado de iguais medidas de Amor e de Vontade, teria assim a capacidade de realização espiritual máxima, sendo, ele mesmo, a expressão viva da Unidade primordial.Agape também é compreensão e entendimento. Desprezar esta chave é causar desequilíbrio entre os pratos da balança. Neste caso, teríamos vontade fraca e entendimento nulo. A resultante desta insidiosa ação não poderia ser outra. Quando vontade e entendimento, princípios básicos que constituem o homem, operam sem harmonia, o espírito cai enfermo. O estudo e a prática da Lei de Thelema, ressaltam os thelemitas, intentam fazer com que o conjunto Vontade e Entendimento, funcione devidamente, levando o Adepto a sua realização plena, também nomeada por eles de a Grande Obra. Segundo Crowley e sua religião, "a palavra de pecado é restrição". Crowley é bem claro sobre o que significa "Restrição". Ele diz: "qualquer coisa que prenda a vontade, que a impeça, ou que a desvie, é Pecado". Sendo, pois, a restrição da vontade pessoal o principal obstáculo ao desenvolvimento individual, o esforço do fiel da religião thelêmica, o thelemita, deve ser orientado no sentido de identificar dois pontos básicos: a Vontade Verdadeira e os elementos que impedem a sua manifestação. Eliminando o segundo, aquele faria o homem brilhar como estrela: "Todo homem e toda mulher é uma estrela", arremata Crowley. Thelema traz ainda um alentado apelo liberal, que a mente menos perspicaz, em espécie aquela presa ou afetada por dogmas religiosos relacionados a sexualidade, pode entender como promíscuo ou libertino. Ainda sobre pecado ser identificado com restrição, por exemplo, Crowley completa: "o instinto sexual é uma das mais profundamente enraizadas expressões da Vontade; e não deve ser restringido". Ele é ainda mais enfático e claro quando diz que “o homem tem o direito de amar como quiser: tomai sua fartura de amor como quiser, quando, como, onde e com quem quiser”. Quando recriminado em relação a suposta imoralidade de seus atos, ele simplesmente diz que “quando você bebe ou dança e desfruta de alegrias, você não está sendo ‘imoral’ nem ‘prejudicando sua alma imortal’, você está sendo inteiramente de acordo com os preceitos de nossa Religião”.Muito além de toda especulação feita a respeito da doutrina religiosa de Aleister Crowley, bem como a respeito de seu incomum modo de vida, o universo thelêmico ainda guardará uma infinita gama de significados, todos esperando para serem desvendados. Ao centro de todos estes mistérios sempre estará o ser humano. A prática thelêmica visa mostrar ao seu Adepto exatamente isto, uma realidade iniciática, por muitos considerada por demais dolorosa: o verdadeiro Iniciado está só, entregue a si mesmo e a mais ninguém, sendo ele o único responsável por seu destino.Uma das formas mais belas e significativas encontradas por Crowley para demonstrar este mistério está presente em sua dramatização ritualística. Descrevendo-a, após a entrada do Postulante no templo, o Oficiante principal que conduz o rito lhe pergunta em tom solene: “em todos os casos de dificuldade e perigo, em quem tu depositas a tua confiança?”. Por sua livre iniciativa e vontade, o Candidato deverá responder confiante “em mim mesmo”. Deste modo, o Oficiante dará continuidade ao Rito. Entretanto, qualquer outra resposta vacilante indicará que aquele Postulante ainda não está preparado para a comunicação dos mistérios thelêmicos ali celebrados, devendo ser o candidato imediatamente retirado do templo.A breve descrição acima, que compõe o Ritual de Iniciação ao Grau I da Ordem do Templo do Oriente, resume de modo magistral o espírito de liberdade desta nova religião, a religião thelêmica, genericamente conhecida como a Lei de Thelema. É a esta busca por irrestrita Liberdade, munidos pela Tradição, que os Adeptos e Seguidores da Estrela e da Serpente, os Estudantes de Thelema, dedicam sua Obra. Raízes da Religião de ThelemaTalvez devido a seu forte apelo libertário, muitos dos entusiásticos seguidores da Lei de Thelema sejam levados a tomar sua religião como totalmente revolucionária e completamente nova. No entanto, a Religião thelêmica, se por um lado é o resultado da busca individual de um Iniciado, se ela é a demanda por irrestrita liberdade, por outro, ela possui como elementos fundamentais, alguns princípios sacados livremente por Crowley das mais variadas fontes, com as quais ele esteve em contato. Apenas citando alguns nomes, por exemplo, encontramos em Santo Agostinho (que proclamou, ainda na aurora do cristianismo, “ama e faze o que quiseres”), uma de suas principais referências. Em François Rabelais (especificamente em Gargantua e Pantagruel), Crowley buscou o conceito de sua famosa “Abadia de Thelema”. Nos “Provérbios do Inferno” do igualmente desconcertante William Blake, que dizia “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”, Crowley encontraria inspiração para recomendar que seus discípulos “excedessem”. Do filósofo Nietzsche, considerado por Crowley uma espécie de “avatar de mercúrio”, seria absorvida a forte idéia anticristã da completa negação de Deus. “Não há Deus”, diz enfaticamente o filósofo em seu Anticristo, ao que Crowley completa, inspirado: “não há deus senão o homem”.
Por outro lado, há quem afirme taxativamente que o enfático brado de Crowley “não há deus senão o homem”, venha diretamente do Islã e seu fervoroso clamor “não há deus senão Alá”. Certamente, não existe como evitar esta comparação, principalmente se levarmos em consideração a admiração pelo Islamismo, nutrida por parte de muitos seguidores da religião thelêmica. Sobre a crença fundada por Maomé, Crowley vai além, afirmando que "os dogmas do Islã, retamente interpretados, não estão longe do nosso caminho de Vida e Luz e Amor e Liberdade [a Religião Thelêmica]. Isso se aplica especialmente ao dogma secreto. O credo externo é mera tolice apropriada à inteligência dos povos entre os quais foi promulgado; mas assim mesmo, o Islã é magnífico na prática. Seu código é o de um homem com coragem e honra e respeito próprio".
Algumas Ordens thelêmicas de natureza cristã, por sua vez, como a Ordo Templi Orientis (O.T.O.), também nutrem uma grande admiração pelo Islamismo. A O.T.O., por exemplo, faz franco uso da imagem de Saladino (herói do Islã, quando das Cruzadas), ao longo de alguns de seus Rituais, como ícone de sabedoria e modelo de vida de um verdadeiro iniciado, na forma de Sacerdote-Guerreiro.
Apesar de, em muitos aspectos, a religião thelêmica não ser simpática ao cristianismo (“eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz”, diz explicitamente o Livro da Lei dos thelemitas), paradoxalmente, foi exatamente a Bíblia cristã uma das principais fontes para Crowley montar sua religião. Por exemplo, o conceito de vontade, de acordo com a religião thelêmica, está muito próximo da máxima cristã “seja feita a tua vontade” (Mateus, 6:10). Apenas citando mais um exemplo, a exortação do Livro da Lei - “Existe a pomba e existe a serpente. Escolhas bem" - possui clara inspiração bíblica, quando esta compara pomba e serpente, através da alegada palavra de Jesus, ao recomendar que seus seguidores devessem ser “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16).Outros conceitos fundamentais para o entendimento da religião thelêmica estão presentes nas fantásticas imagens da Besta 666 e de sua consorte, a voluptuosa deusa Babalon. “A Grande Besta” (ver em Apocalipse, 13:18) foi talvez o principal nome mágico de Crowley e a descrição de sua divindade Babalon, versão corrigida de Crowley para a palavra inglesa Babylon, a Grande Prostituta que cavalga a Besta de sete cabeças, foi inteiramente sacada da Bíblia (ver Apocalipse, 17:3-5). Outro par de deuses, chave dentro do panteão de divindades cultuadas pelos thelemitas, é o casal estelar Hadit e Nuit, representações divinizadas do ponto e do círculo. Hadit, de acordo com os Livros Santos thelêmicos, é um deus que se apresenta dizendo: "Eu estou só. Não há deus onde eu sou". A origem desta breve fala está intrinsecamente relacionada a Isaías (45:5) "Sou eu que sou o Senhor, não existe outro senão eu”. Nuit, por sua vez, que aparece em Liber Al como a Rainha do Céu a quem se deve queimar incenso segue o modelo da divindade estelar cultuada assim como a inspirada descrição bíblica apresentada em Jeremias (44:15-19)Não devemos supor, entretanto, que os textos bíblicos que tão fortemente marcaram a vida de Aleister Crowley, formem a única fonte de seu culto thelêmico. Há também em seu sistema de realização espiritual, muito de yoga, de magia e de misticismo. Do oriente, Crowley sorveu dos escritos de Vivekanada e Patanjali; enquanto que, do ocidente, todo o sistema de magia, assim como lhe ensinado pela G.'.D.'. original, foi aproveitado para que ele montasse o seu próprio sistema iniciático, e também sua magick. Em relação ao misticismo, muito foi revivido por Crowley a partir de ensinamentos que remontam a época das seitas gnósticas, em espécie aquelas relacionadas a Basilides e Valentino, os quais foram considerados pelo Profeta Crowley como autênticos Santos de sua Igreja Católica Gnóstica. Tão marcante é a influência destes na mente de Crowley que um dos principais ícones da crença thelêmica, Baphomet, foi concebido por ele a partir da suposta compreensão mística que lhe davam estes gnósticos (ver meu artigo Os Mistérios de Baphomet, em Sexto Sentido nº 45).O fértil panteão de deuses egípcios foi outras das fontes de onde Crowley mais buscou estereótipos que comporiam os seus próprios deuses. Além da já citada Nuit, uma variação da deusa Nu, Crowley aproveitaria conceitos como de Osíris, Hórus, ISIS (poeticamente entendida por Crowley como acróstico de “Infinite Space, and the Infinite Stars”) e tantos outros deuses mais, para formular o panteão de sua religião. E há ainda quem remonte a criação de seus deuses a culturas ainda mais longínquas, relacionando, por exemplo, Aiwass, a entidade que ditou o Livro da Lei para Crowley, com deuses cultuados na antiqüíssima Suméria. A religião thelêmica enfim, talvez seja o fantástico produto de uma mentalidade incrivelmente sincrética, extraordinariamente ampla, alucinada e diversificada, que jamais permitiu se limitar por quaisquer fronteiras impostas seja por uma cultura seja por uma sociedade. Este é o principal exemplo e o legado da Besta, Aleister Crowley.Certamente o legado da Besta surpreendeu aqueles que esperavam, e até mesmo ansiavam, seu esquecimento. Esses nunca poderiam imaginar que a quantidade de admiradores e discípulos da Tradição revivida por Crowley, o Culto da Besta, ou o Culto das Sombras, aumentasse de forma "assustadora, chegando mesmo a comprometer as bases morais, nas quais nossa sociedade está erigida". Talvez esses tenham esquecidos que essas mesmas bases morais, nas quais foi estabelecido aquilo que hoje denominamos sociedade, sejam as únicas reais responsáveis pela obtusa condição em que se encontram centenas de milhões de homens e mulheres, massacrados por não qualificáveis condições de vida, seguro retorno do bi-milenar investimento sócio-religioso e econômico, que é a miséria. Thelema, hoje em diaAtualmente, a Lei de Thelema conta com milhares de seguidores em todo mundo. A ampla maioria destes seguidores prefere não estar associado diretamente a nenhum grupo institucionalizado, que pretenda aparecer publicamente como representante da Lei de Thelema. Quando muito, estes seguidores se reúnem em pequenos grupos, não oficiais, pois somente neles há a possibilidade do livre debate e estudo das premissas thelêmicas, de acordo com os textos de seu profeta, Aleister Crowley. Contudo, até mesmo numa religião onde se pressupõe que a liberdade irrestrita seja a grande motivação, novamente existe a ameaça de se fazer valer o ditado homo homini lupus (o homem é o lobo do homem). Assim, embora atualmente contando com um inexpressivo séquito, existem algumas poucas seitas thelêmicas institucionalizadas, que se digladiam ferrenhamente pela posse das rentáveis obras de Aleister Crowley. O objetivo de tudo é, seguindo o conhecido modelo empregado pela Igreja Católica quando de seu famoso Concílio de Nicea, se transformar na única representante oficial da religião da nova era, condenando qualquer outra opção a marginalidade. Estas seitas, infelizmente, por mais novas que sejam, já têm suas histórias marcadas pelo dogma, pragmatismo e pelo fanatismo, impingindo perseguições a todo e qualquer estudante sincero que não se submeta às suas rédeas. No Brasil, a Lei de Thelema, apenas a partir da década de 1970 é que viria ganhar certa popularidade, através da obra do genial Raul Seixas. Alguns de seus sucessos, muitos destes compostos em parceria com Paulo Coelho, tiveram como origem os textos do mago Aleister Crowley. Atualmente, graças às facilidades promovidas pela Internet, cresce no Brasil o número de estudantes não sectários (aqueles que não pertencem a Ordens sectárias) da Lei de Thelema. A Lei de Thelema está completando 100 anos. Aleister Crowley para muitos representa o papel de Profeta, Vate e Apóstolo. Sua grande aspiração reflete a aspiração de todo ser humano: o anseio do homem por Liberdade. Seu trabalho pode ser compreendido não apenas como o resultado dos caprichos de uma controvertida personalidade, mas, principalmente, da necessidade humana de tomada de consciência, necessidade de Vontade, necessidade de entendimento. Este era todo o anseio de Crowley e também o anseio de qualquer ser humano. Isto é liberdade, liberdade apenas para a realização da Vontade Verdadeira de cada um de nós, nada mais. Thelema pode ser livremente resumida como o eterno anseio do homem insatisfeito querendo revolucionar. Toda esta necessidade, de dar um novo sentido aos estudos, de fazer do velho, algo de fato novo, agora me faz relembrar das últimas palavras a mim dirigidas pelo meu velho mestre, que apesar de sua notável erudição, brilhantismo, cortesia e sabedoria, sempre insistiu em permanecer desfrutando de um completo saudável anonimato. Momentos antes de partir para o Oriente Eterno, ele me falou, feliz e reflexivo, que toda sua luta pessoal por revolucionar a senda mística certamente tinha feito de sua vida um exemplo para nós, sedentos aprendizes. Contudo, se eu quisesse ainda usufruir uma gota de sabedoria daquele mestre, que escutasse uma inspirada canção. E ele cantarolou, meio que risonho – saudosa Elis Regina – “nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não. Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”

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Artikel Thelema: Uma Religião da Nova Era ini dipublish oleh 01 pada hari terça-feira, 9 de junho de 2009. Semoga artikel ini dapat bermanfaat.Terimakasih atas kunjungan Anda silahkan tinggalkan komentar.sudah ada 0 komentar: di postingan Thelema: Uma Religião da Nova Era
 

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